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A cultura do descartável

19/10/2012

Uma coisa muito me intriga nos dias de hoje. Claro que tudo sempre aqui no nosso cafôfo tem algo a ver com sexo e relacionamentos, mas geralmente o que acontece nos relacionamentos tem raízes mais profundas, intrínsecas na sociedade, que nos fazem agir de determinadas maneiras e aceitar ou rejeitar tantas coisas, sem ao menos questioná-las.

Um retrato? Hoje vivemos a cultura do “descartável”. Quebrou? Joga fora. Parou de funcionar; joga fora. Não era bem o que queria? Joga fora e compra/pega outro. Troca. Vende. Faz rolo. O importante é “não encher sua vida de tranqueiras” e ter tudo sempre do bom e do melhor.

Isso não é exatamente um problema. Mas me lembro de tempos nem tão longínquos assim, quando sua TV quebrava e você… Consertava! Olha só, que estranho! E quando a máquina de escrever, lavar ou secar parava de funcionar direito, ao menos se TENTAVA consertar.

Claro que nem tudo na vida tem conserto. Também é óbvio que uma enorme parte das coisas perderá com isso. “Um vaso quebrado pode ser colado, mas jamais voltará a ser o mesmo vaso”, diz um dos ditados mais populares que rodam pelo Facebook. Verdade. Maaaaaaas… Será que tudo é uma questão de “beleza”? E se eu gostar muito do vaso? Devo me desfazer dele só porque ele não é… perfeito?

Mas vou mais além ainda. A cultura do descartável chegou a tal ponto que não precisamos nem ao menos esperar algo quebrar ou deixar de funcionar bem para trocá-lo! Quantas pessoas esperam seu celular quebrar, por exemplo, para comprar outro? Grande parte simplesmente compra porque o outro é mais novo e moderno. E só. E jogue-se o outro no lixo, ou dê para o irmãozinho mais novo.

O que me parece é que estamos virando assim para os relacionamentos também. Não tá dando certo? Acaba e pronto. Anda chato? Troca por um “novinho em folha”. Os problemas de relacionamento mais simples e básicos já são motivos para um fim. Vejo muitas pessoas casando já com esse tipo de pensamento: “Ahhh… Se não der certo, separa e pronto.”

Não estou defendendo aqui a hipocrisia de viver com alguém que não se suporta mais, muito menos achar que VAI dar certo simplesmente pelo esforço. Mas ainda acredito que um relacionamento é uma via de mão dupla, onde AMBOS podem crescer. A cumplicidade de ajudar e ser ajudado, a vontade de aprender com o outro, o carinho tentando corrigir uma falha do outro pelo simples fato de que você quer ver a pessoa feliz.

Todo mundo tem defeitos. Alguns defeitos são viáveis de se conviver, outros são impossíveis. Cada um tem os seus limites quanto à tolerância aos defeitos alheios. Mas não é possível que tudo esteja tão banal ao ponto de você NEM SE IMPORTAR com isso ao iniciar um relacionamento; e ao mesmo tempo não posso acreditar que pequenas falhas sejam tão graves ao ponto de “abortar o Masterplan na página 3”.

Consertar dá trabalho. Troca que é mais fácil. E se não der… troca de novo. E se não ficar bom, troca mais uma vez. E assim vamos pulando de galho em galho em busca de uma perfeição inexistente, sequer notando que muitas vezes deixamos para trás algo incrível e que não mais voltará, apenas por conta da nossa própria impaciência.

Não notamos também algo que deveria ser o mais básico dos básicos: estamos lidando com PESSOAS! Muitos “se esquecem” que PESSOAS não são aparelhos. Que PESSOAS têm sentimentos, ao contrário da sua televisão antiga ou do seu jurássico walkman. E o que parece óbvio, mas percebo que as pessoas sequer PENSAM nisso, é: “QUANTO MAIS tratamos as pessoas como descartáveis, mais elas nos tratarão da mesma forma!” Não é óbvio? Ação e reação?

Fico com a pergunta no ar: Onde foi parar o amor? A paixão! O ideal? A vontade sincera de constituir uma família? Se aos primeiros problemas… Jogamos esses sonhos no ralo! Será que nossa impaciência nos impede de tentar mudar as coisas, ao invés de trocá-las, simplesmente? Ou será que até nossos SONHOS estão descartáveis atualmente?